ATA DA SEXAGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 08.11.1988.

 


Aos oito dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Sexagésima Quinta Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Alfredo Pozoco (Maestro Gil de Roca Sales), concedido através do Projeto de Resolução n° 11/88 (proc. n° 654/88). Às dezesseis horas e trinta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancadas a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Artur Zanella, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício da Presidência; Dr. Nestor Fedrizzi, Secretário Estadual da Administração; Sr. Alfredo Pozoco (Maestro Gil de Roca Sales), Homenageado; Ver.ª Teresinha Irigaray, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretária “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Flávio Coulon, em nome das Bancadas do PMDB e PT, teceu considerações sobre a evolução da música e sua importância para a humanidade. Discorreu sobre o trabalho do Homenageado na regência de grupos vocais, falando do privilégio que representa para nós gaúchos podermos ouvir os corais regidos por S.Sa. A Ver.ª Teresinha Irigaray, em nome das Bancadas do PDT, PFL, PDS e PCB, disse que esta Casa se orgulha de homenagear a figura do Maestro Gil de Roca Sales, declarando que os motivos desta Sessão devem-se não apenas à importância mas também à competência e ao trabalho de S.Sa. em prol da arte e da música. Após, o Sr. Presidente convidou a Ver,ª Teresinha Irigaray a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Maestro Gil de Roca Sales e concedeu a palavra a S.Sa. que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, foi ouvido número musical apresentado pelos diversos corais presentes à solenidade, regidos pelo Maestro Gil de Roca Sales. Após, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e trinta e seis minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Artur Zanella e secretariados pela Ver.ª Teresinha Irigaray, Secretária “ad hoc”. Do que eu, Teresinha Irigaray, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a conceder o título honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Alfredo Pozoco (Maestro Gil de Roca Sales).

Em nome da Casa, como é tradicional nessas solenidades, falarão os Srs. Vereadores.

É concedida a palavra, neste momento, ao Ver. Flávio Coulon, em nome das Bancadas do PMDB e PT.

 

O SR. FLÁVIO COULON: (Menciona os componentes da Mesa.) Minhas senhoras, meus senhores: as origens da música se misturam às próprias origens do ser humano. A frase pode parecer surrada, mas possivelmente, em nenhum outro caso, senão o da música, ela se aplica tão bem. Isto porque a música, ao contrário das outras artes, é imaterial. Não precisa de tinta, nem de papel, nem de qualquer outro suporte. Por isto, é perfeitamente aceitável que o homem que desenhou as mais antigas pinturas rupestres, cantarolasse alguma coisa enquanto ia traçando suas figuras na parede da caverna. Exatamente por esta característica única, de imaterialidade, se desconhece por completo as origens da música.

Os mais antigos instrumentos conhecidos datam do período paleolítico. São basicamente flautas e instrumentos de percussão. O mais antigo sistema musical escrito de que dispomos vem do terceiro milênio antes de Cristo, registrado na forma de ideogramas egípcios. Mesmo assim, tratam-se de pequenos exemplos que não servem para caracterizar a música da época. Mesmo da Grécia Antiga, do terceiro e do segundo séculos que antecedem ao nascimento de Cristo, conhecemos muito pouco da cultura musical. Tão pouco que posso registrar aqui:

O fragmento de Eurípides, do século III AC, três linhas de um fragmento de tragédia, nos papiros de Zenón, do século II AC; cinco pequenos fragmentos de drama, nos papiros de Viena, também do século II; e, completos, apenas dois hinos a Apolo, cinzelados em uma parede da Casa do Tesouro Ateniense, em Delfos, e a “Canção de Seikilos”, registrada em uma coluna funerária, atualmente em posse do Museu de Copenhaguem.

Apesar desta precariedade de registros, é crível que o homem tenha cantado muito antes de fabricar seus primeiros instrumentos. É possível, até, que tenha sido através do canto que ele primeiro tenha manifestado a conquista de um dom que o diferenciaria para sempre de todos os outros animais: o raciocínio. Pois, mesmo que o homem primitivo não tenha cantado com a mesma sonoridade dos pássaros, ele já devia ser capaz de entoar melodias diferentes para cada momento e para cada sentimento. Muito provavelmente antes da invenção da roda, antes da conquista do fogo, o homem aprendeu a cantar. Mas tudo o que cantou durante séculos está perdido para sempre.

Nem mesmo a conquista da notação escrita salvou por completo a precariedade da música enquanto criação de um momento. Não sabemos bem como soava o cravo de Bach tocado pelo próprio, ainda que existam indicações nas partituras que permitam aproximações. Mas não sabemos, e jamais poderemos saber, como Mozart tocava as obras de Bach, ou Beethoven as obras de Mozart. Estes conhecimentos foram privilégios de quem os ouviu tocar a seu tempo.

Minhas senhoras, meus senhores: há duas décadas, aqui em Porto Alegre, nós temos o privilégio de ouvir os grupos corais regidos pelo Maestro Gil de Roca Sales. Um privilégio único, que passa pelo Madrigal Palestrina, pelo Coral da Pro Arte ou pelo Coral do Banrisul, para citar apenas três exemplos. Um privilégio que se materializa no momento fugaz de cada apresentação. Pois cada uma delas é única, particular. Mesmo que seja gravada em disco ou fita, ela não será igual a nenhuma das outras. Esta é uma característica única da música, a característica que tentei enfatizar anteriormente.

A noção do privilégio de viver no mesmo tempo e lugar em que acontecem grandes manifestações musicais é fundamental para que possamos usufruí-las. O trabalho do Maestro Gil, em termos de canto coral, é uma destas grandes manifestações. A consciência de sua importância deve estar no íntimo de cada um de nós. Sua presença constante dignifica nossa Cidade e nosso Estado. E esta homenagem que hoje a Cidade lhe presta não é mais do que o reconhecimento por tudo o que ele já fez, por todos os momentos que criou e ainda há de criar, e que serão únicos, íntimos e privados dos que deles participarem. Pois é nesta característica, tão vinculada, para nós, ao Maestro Gil, que reside a maior força e beleza da grande arte da música. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra à Ver.ª Teresinha Irigaray, autora da proposição, que falará em nome das Bancadas do PDT, PFL, PDS e PCB.

 

A SRA. TERESINHA IRIGARAY: (Menciona os componentes da Mesa.) Meu querido Homenageado, não o chamo pelo nome que é Alfredo Pozoco, mas o chamo pelo nome que gratifica o meu coração e sensibiliza o meu retorno dentro do tempo que é do meu querido Frei Gil, o Maestro Frei Gil de Roca Sales.

Srs. Vereadores, senhores e senhoras aqui presentes, senhores da imprensa e senhores funcionários da Casa.

Todos nós sabemos que viver é transmitir emoções, é vivenciar o momento, é transmitir alegria, é saber o significado das tristezas, mas, sobretudo, é saber diferenciar os momentos importantes e gratificantes da nossa vida. E hoje, Frei Gil, hoje a Casa do Povo, que está numa hora típica, desfalcada dos seus representantes devido a uma aproximação de uma campanha eleitoral, mas que estão aqui presentes na nossa memória viva, porque todos eles foram unânimes na aprovação do seu Projeto, hoje esta Casa, mesmo com desfalque dos seus representantes, homenageia e dá titularidade a uma figura querida, a uma figura humana, a uma figura muito respeitada na comunidade, homenageamos Alfredo Pozoco, o nosso querido Maestro Gil, de Roca Sales. E o motivo da homenagem, porque nós temos que destacar, em primeiro lugar, por homenageamos determinadas pessoas, por que, dentre todas as pessoas da comunidade, nós fazemos uma triagem e uma seleção, para darmos esse título de Cidadão Emérito de Porto Alegre? O motivo desta homenagem, meu querido Homenageado, é, em primeiro lugar, a sua competência, a cultura, a arte, que, ao longo do tempo e de sua vida, sempre se fizeram presentes no cotidiano do nosso Gil de Roca Sales. Mas, somando tudo isso, somando a competência, somando a dedicação, somando o trabalho, somando a arte junto a todas essas qualidades, soma-se uma que extrapola qualquer uma dessas citadas, soma-se a amizade, o carinho, o reconhecimento e a admiração pessoal desta Vereadora ao Maestro Gil. E, nesta tarde, já quase fim da Legislatura, já quase fim desta tarde primaveril quente de Porto Alegre, no painel do tempo do meu painel, as imagens se sucedem e se desenrolam. E eu recordo perfeitamente aquele frade capuchinho, que era, e continua sendo, tão amigo da família Irigaray, família que se reunia em muitas e muitas noites de festa, na Rua Gonçalo de Carvalho. E lá, junto com ele, eu lembro também das figuras do então capuchinho Frei Marçal e recordo também o nosso querido e saudoso Frei Antônio. Frei Antônio com a sua cabecinha branca, sua barba de capuchinho, suas sandálias franciscanas e seu hábito, mas com aquela sua alegria tão marcante, sua bondade e sua simplicidade que se derramava por entre todos nós e se comunicava de maneira contagiante. Recordo, também, a Igreja Santo Antônio, o Bairro Partenon, onde, por tantas vezes, Frei Gil, confraternizamos em vários almoços com a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Mais tarde, praticamente o tempo nos afastou. Ficamos distanciados um pouco, mas o reencontro, depois, foi com o músico e o regente de vários corais. E o meu colega, o Ver. Coulon, já falou sobre a habilidade, a maestria, a genialidade com que o Maestro Gil sabe reger e conduzir os seus corais. Sempre brilhante, mas, sobretudo, sempre um homem simples, harmonioso no trato, na distinção, na figura, transmitindo a sua música, que extrapola os limites e as fronteiras brasileiras, insistente por toda a América Latina. O Maestro Gil de Roca Sales é um nome de expressão, é um nome de vanguarda na cultura e na arte do povo de Porto Alegre, do povo desta Cidade. E, nesta hora, Frei Gil, a Casa do Povo de Porto Alegre lhe presta esta homenagem, porque quer reconhecer, neste título, o seu trabalho, valorizando o que o senhor fez, valorizando, inclusive, o pensamento unânime de toda a Câmara de Vereadores, ao lhe conceder esta titularidade, pelo seu valor, pela sua obra e pelo seu trabalho, bem como a sua dedicação e o seu amor aos problemas sociais e humanos de nossa comunidade, às vezes a mais carente. Nesta hora, eu quero destacar que não falo em nome de bancada nenhuma, apesar de o Presidente ter anunciado. Não falo nem em nome da minha Bancada. Eu falo em meu nome pessoal, em nome da amiga Teresinha, da Vereadora Teresinha, que, por felicidade, por desígnio superior, conseguiu ser trazida para esta Casa e teve a justa recompensa neste final de Legislatura, ao apagar da luzes, nas vésperas de uma eleição, de poder lhe proporcionar este título, Frei Gil, e lhe digo, sinceramente, faço com muita satisfação, muita amizade, e lhe passo às mãos, com muito carinho, este título, porque o senhor merece, não só por tudo que eu disse, pelas pequenas, simples e singelas palavras, mas pelo merecimento, de todos os seus amigos que aqui estão, e a Casa está cheia, destes amigos que aqui vieram, nesta tarde, trazer o seu abraço, o seu apreço, e dizer que, realmente, o Maestro Gil é um homem de valor dentro da comunidade. E Porto Alegre, nesta hora, está muito orgulhosa em ter o seu mais novo Cidadão Emérito da Cidade. Por todas as ruas, por todas as praças pelas quais o Senhor passar, pelo Parque da Redenção, pelo Marinha do Brasil, zona sul, zona norte, pelas escolas, quando o Senhor reger os seus corais, quando o Senhor for brindar seus ouvintes com seu belo trabalho, a Cidade é que vai se curvar agradecida, emocionada, orgulhosa perante o trabalho do seu Cidadão Emérito, Frei Gil de Roca Sales. E eu continuo dizendo, Frei Gil, porque é uma coisa do coração e de sentimento, ele me representa alguma coisa do passado que eu trago para o Plenário, mas o Maestro Gil é aquele competente que transforma e transborda de emoção, e que nos deixa emocionados e satisfeitos em ouvi-lo. Nesta hora, Maestro Gil, a Câmara de Porto Alegre está orgulhosa, a Câmara está engalanada, e, apesar das ausências, sei que os Vereadores gostariam de estar aqui, mas nós estamos representando, Ver. Flávio Coulon, do PMDB, Ver. Artur Zanella, do PFL, e esta representante do povo, para dizer que o Senhor é merecedor, não só deste título, mas de todo o respeito, de toda admiração e carinho da Cidade de Porto Alegre. Que Deus nos ilumine, Frei Gil, que Deus abençoe, Maestro Gil de Roca Sales, pela beleza deste momento, um momento extremamente simples, mas um momento de reencontro, de emoção, de felicidade total. O Senhor vai sair daqui com seu título de Cidadão e vai mostrar, por estas ruas todas, o que a Cidade lhe ofertou, mas vai dizer, a Cidade me deu porque eu mereci e a Cidade também vai dizer, eu ofertei porque ele é merecedor, o nosso Cidadão Emérito de Porto Alegre Maestro Gil de Roca Sales. Meu abraço. Sou grata. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Solicito à Ver.ª Teresinha Irigaray que entregue o Diploma de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Sr. Alfredo Pozoco, Maestro Gil de Roca Sales.

 

(A Sra. Teresinha Irigaray faz a entrega do Diploma ao Maestro Gil.) (Palmas.)

 

Com a palavra o nosso Homenageado.

 

O MAESTRO GIL: Ver. Artur Zanella, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Nestor Fedrizzi, Secretário Estadual de Administração; Ver. Flávio Coulon; Ver.ª Teresinha Irigaray, que representaram toda a Câmara nas suas palavras que me precederam; prezados amigos. Até aqui eu tive que me concentrar para dizer os nomes certos, que nós, cientistas da música, procuramos não errar, nem o acento do “i”, sobre os compositores, especialmente os compositores da Renascença, da Idade Média, do Barroco, mas estamos pouco afeitos a guardar de memória nomes de amigos e até de compositores. Será um defeito, sem dúvida, mas vou começar dizendo que não me é dada, aliás, não é meu forte, como de nenhum artista em geral, nenhum músico, especialmente, o forte não é a palavra. O forte é o som. E, mesmo que o fosse, hoje não seria o momento forte à minha palavra porque, se, ao reger o coral, já me acostumei estar frente à multidão e controlar a emoção, hoje fiquei surpreso e estou me sentindo emocionado de uma maneira única. Sinto que a emoção está me tirando a tranqüilidade. Por isto não poderia falar bem, mesmo que este fosse o meu forte. Mas algumas idéias não poderia deixar de expressar num momento tão importante. Primeiro, que realmente me surpreendi demais com este título honorífico de Cidadão Emérito dado a mim e até a uma classe, não apenas de cultura, mas mais especificamente da música e, com maior especificidade dentro da música, coral. Isto surpreendeu a mim e a todos corais e cantores aqui presentes, por ser um acontecimento muito raro e que percebemos que veio de cabeças e corações alheios a quaisquer outras motivações secundárias senão o fato de terem sensibilidade muito grande, muito afinada para a cultura, para a arte e para o canto. Eu, nesta altura, quero dar os parabéns, portanto, por mim, por todos os corais e cantores aqui presentes, por terem tido esta sensibilidade, porque para nós que lutamos dentro disso – realmente, toda a arte é uma luta, toda a arte é uma longa paciência, como dizia um pensador – para nós é momento de parabenizar a quem teve esta idéia, porque não me sinto realmente homenageado; sinto, na homenagem dada a mim, muitos outros que aqui trabalham dentro do canto-coral, da música e da cultura em geral, sinto todos eles homenageados por esta digna Câmara. O segundo pensamento que não poderia deixar de expor é que, méritos à parte, nós não somos juízes de nossas qualidades, podemos ser mais da quantidade de nossas obras, assim como dentro de minhas músicas, de minhas composições, de meus arranjos, de meus corais, poderei contar a quantidade de tudo o que fiz; a qualidade é muito difícil. Então, méritos e qualidades à parte, é para mim uma oportunidade de grande estímulo num momento em que normalmente a gente pensa devagarinho e descansando o passo, se dedicar, quiçá, a obras até mais meritórias, a gente tendo um título destes é um estímulo para dizer: continue dentro disto que isto também é bom. Realmente eu já muito discuti, desde os meus tempos de adolescente, qual seria a maior arte. Para muitos era a poesia, para muitos o desenho, a pintura, para mim sempre era a música; hoje já não posso discutir porque procurei me dedicar à música, especialmente aquela música chamada música coral ou vocal, onde o instrumento é a voz humana, o mais perfeito dos instrumentos, sem dúvida, mas o mais difícil de ser trabalhado. Então, para mim, que sempre me dediquei a esta arte, hoje já não posso discutir, seria suspeito se o fizesse, mas me alegra muitíssimo ver outras cabeças, outros corações, dizerem que a música é uma arte única, não tem comparação com as demais artes. Isto já é científico, é uma arte espiritual, que trabalha com algo que não vê, por isso ela mais toca por dentro. O grande forte, o grande dedo da música é o dedo interior, porque ela pode realmente mexer com o interior das pessoas.

Então, quando nós vemos nesta Câmara tão bem representada pelos dois Vereadores que falaram tão bem, homenagearam esta arte sublime, podemos dizer mesmo esta arte divina dos sons, da música, nós vemos mais um motivo de alegria e de estímulo e é tão importante que se diga que esta arte é espiritual e até divina, que sabemos, pela história, que ainda hoje existem religiões que não permitem a seus adeptos a cantarem alguma música, ou tocarem música que não seja, que não fale de Deus, pois acham que a música é tão divina, tão espiritual, que ela só deve ser usada para louvar a Deus. Claro que hoje nós não pensamos assim, ainda mais hoje, em nosso tempo aberto para todas as coisas boas. E hoje eu tive o maior exemplo, aqui talvez, de que a música, além de louvar a Deus, ela pode fazer um bem que poucas vezes nos damos conta, o de fazer o bem. Vemos a música como um sacerdócio, a música como um apostolado, não apenas como uma profissão ou uma arte e a música sendo um sacerdócio, eis que ela faz tanto bem às pessoas deve realmente ser seguida com toda a seriedade, devemos segui-la com perseverança. Isto vale para mim, vale para todos os cantores, pois só nós sabemos, dentro desta arte coral, quanto de sacrifício, o quanto de paciência que devemos ter, não para começar um coral, mas para continuá-lo. A perseverança é a coisa mais difícil dentro da música, nós sabemos até na música profissional, onde os músicos profissionais vivem disso, onde o dinheiro talvez seja um dos motivos que movem a música. Raramente, existiu um grupo, me parece que o MPB 4, que durou dez anos. E, na música coral, o Quarteto Em Si. Na música coral, tenho a grande alegria de ter aqui presentes, ou representados, cinco grupos, que estão há mais de dez anos, sem ter o motivo profissional ou o motivo do dinheiro, mas por amor à arte, por amor à música, e por amor até às pessoas, pois através da música se leva muita alegria, hoje tão necessária para o mundo e para o Brasil.

Então, os corais que estão aqui presentes, tenho o prazer de citá-los, a partir dos mais novos: o Coral da Acentro, Coral dos Servidores do Centro Administrativo do Estado; parece que, se não me falha a memória, estamos cantando juntos há oito anos; Coral Aços Finos Piratini, também, aqui representado, que já está trabalhando há doze anos; Coral do Colégio Cruzeiro do Sul, já há perto de 20 anos, com uma pequena pausa intermediária e que agora retomaram os trabalhos, as atividades; Coral Banrisul, em março fazendo 22 anos; e o Madrigal de Porto Alegre, parece que vai completar 28 anos.

Para mim, talvez para vocês também, tudo parece ontem, porque me lembro muito bem como começou, me lembro dos cantores, existem fundadores aqui, do Banrisul, fundadores também do Madrigal.

Então, isso é mais um sinal de que a música nos faz passar o tempo com prazer, não sentimos o tempo passar.

Já agradeci, já dei os parabéns para quem teve essa idéia, já não considerando a mim como homenageado, mas toda uma classe representada por mim e pelos corais aqui presentes. Quero apenas reiterar o meu agradecimento à Câmara de Vereadores, e agradecer as presenças ilustres e, mais que ilustres amigas e importante para mim, num dia tão difícil, numa hora difícil, e num tempo não tão fácil. Estou muito feliz de vê-los todos na minha frente; espero que vocês tenham sentido a mesma emoção que eu tenho, de ter tido uma grata surpresa e, ao mesmo tempo, um grande estímulo para poder dizer: Avante! Continuemos! A música, além de ser arte, é também um sacerdócio, através dos sons que espalha, espalha o bem. Muito obrigado. (Palmas.)

E, agora, um pensamento que eu diria no início vou dizer agora. O poeta, e o poeta que representa todo o artista, digamos assim, o artista pouco tem a dizer além de seus versos. O músico, nada melhor representado por este poeta, o músico pouco tem a dizer além de seus sons: tudo que ele tem que dizer ele diz através dos seus sons, ele diz melhor através dos sons. E eu quero dizer a minha surpresa, o meu agradecimento, o meu entusiasmo, o pouco de vida que me transmitiram, através disto, quero dizê-lo melhora, agora, através da arte dos sons. Quero convidar os corais aqui presentes para apresentar algum arranjo meu e alguma coisa do folclore gauchesco. Convido o coral feminino para agradecer à Câmara de Vereadores e a todos amigos aqui presentes, Madrigal de Porto Alegre. Como hoje é um dia de homenagem para mim, então, vou apresentar uma pequena obra original minha. O poeta é um pernambucano muito conhecido, chama-se Carlos Pena Filho, já consta na enciclopédia o seu nome. Comoveu-me muito uma manhã de Natal, ao ler no antigo Correio do Povo, uma poesia intitulada Poema de Natal e dizia assim: Sino claro sino tocas para quem? Para o Deus Menino que de longe vem. Pois, se o encontrares traze-o ó meu amor. E que lhe ofereces velho pecador? Minha fé cansada, meu vinho e meu pão, meu silencia limpo e minha solidão.

Vou oferecer homenageando e agradecendo a todos vocês.

 

(O Coral canta.)

 

Convido o Tenor Júlio Posenato para fazer parte de mais uma apresentação do Coral Madrigal.

 

(Apresentação do Coral Madrigal.)

(Obra: “Ai Che quest’Occhi Mici” (Palestrina). (Palmas.)

 

Tenho o prazer de convidar, agora, o Coral do Banrisul.

 

(O Coral do Banrisul apresenta Regina Coeli (Gil). (Palmas.)

 

(O Coral do Banrisul apresenta “Ave Maria” (Vitória).

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Ao encerrar, a única coisa que eu poderia dizer é que esta Casa é uma Casa que enfrenta uma série de coisas, de greves, comoções, mas, de vez em quando, temos a sensibilidade da Ver.ª Teresinha Irigaray e do Maestro Gil de Roca Sales, que nos proporcionam este tipo de solenidade. Eu comentava com o Dr. Nestor Fedrizzi, a quem agradeço a presença neste dia, e ele me dizia que havia cantado em coro orfeônico, na PUC. E eu dizia a ele que também havia participado de um coro orfeônico no Ginásio Santana, em Uruguaiana. E informava ainda a ele que ele, como Secretário Municipal de Caxias do Sul que foi, como Secretário Estadual de Administração, e eu, como Secretário Municipal que fui, como Secretário Estadual que fui, como Vereador que sou, na verdade, o que queríamos mesmo era trocar todos estes nossos cargos pelo prazer de, um dia, sermos dirigidos pelo Maestro Gil de Roca Sales. Muito obrigado. Estão levantados os trabalhos.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h36min.)

 

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