ATA DA SEXAGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 08.11.1988.
Aos oito dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e oitenta e
oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal
de Porto Alegre, em sua Sexagésima Quinta Sessão Solene da Sexta Sessão
Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a proceder à entrega do
Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Alfredo Pozoco (Maestro Gil de Roca
Sales), concedido através do Projeto de Resolução n° 11/88 (proc. n° 654/88).
Às dezesseis horas e trinta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr.
Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancadas a
conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a
Mesa: Ver. Artur Zanella, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre, no exercício da Presidência; Dr. Nestor Fedrizzi, Secretário Estadual
da Administração; Sr. Alfredo Pozoco (Maestro Gil de Roca Sales), Homenageado;
Ver.ª Teresinha Irigaray, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretária “ad
hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam
em nome da Casa. O Ver. Flávio Coulon, em nome das Bancadas do PMDB e PT, teceu
considerações sobre a evolução da música e sua importância para a humanidade.
Discorreu sobre o trabalho do Homenageado na regência de grupos vocais, falando
do privilégio que representa para nós gaúchos podermos ouvir os corais regidos
por S.Sa. A Ver.ª Teresinha Irigaray, em nome das Bancadas do PDT, PFL, PDS e
PCB, disse que esta Casa se orgulha de homenagear a figura do Maestro Gil de
Roca Sales, declarando que os motivos desta Sessão devem-se não apenas à
importância mas também à competência e ao trabalho de S.Sa. em prol da arte e
da música. Após, o Sr. Presidente convidou a Ver,ª Teresinha Irigaray a
proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Maestro Gil de
Roca Sales e concedeu a palavra a S.Sa. que agradeceu a homenagem prestada pela
Casa. Em continuidade, foi ouvido número musical apresentado pelos diversos
corais presentes à solenidade, regidos pelo Maestro Gil de Roca Sales. Após, o
Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades
e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais
havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e trinta e seis
minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à
hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Artur Zanella e
secretariados pela Ver.ª Teresinha Irigaray, Secretária “ad hoc”. Do que eu,
Teresinha Irigaray, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente
Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.
O SR.
PRESIDENTE: Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene
destinada a conceder o título honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Alfredo
Pozoco (Maestro Gil de Roca Sales).
Em nome da Casa, como é tradicional nessas
solenidades, falarão os Srs. Vereadores.
É concedida a palavra, neste momento, ao Ver.
Flávio Coulon, em nome das Bancadas do PMDB e PT.
O SR.
FLÁVIO COULON: (Menciona os componentes da Mesa.) Minhas
senhoras, meus senhores: as origens da música se misturam às próprias origens
do ser humano. A frase pode parecer surrada, mas possivelmente, em nenhum outro
caso, senão o da música, ela se aplica tão bem. Isto porque a música, ao
contrário das outras artes, é imaterial. Não precisa de tinta, nem de papel,
nem de qualquer outro suporte. Por isto, é perfeitamente aceitável que o homem
que desenhou as mais antigas pinturas rupestres, cantarolasse alguma coisa
enquanto ia traçando suas figuras na parede da caverna. Exatamente por esta
característica única, de imaterialidade, se desconhece por completo as origens
da música.
Os mais antigos instrumentos conhecidos datam do período paleolítico. São basicamente flautas e instrumentos de percussão. O mais antigo sistema musical escrito de que dispomos vem do terceiro milênio antes de Cristo, registrado na forma de ideogramas egípcios. Mesmo assim, tratam-se de pequenos exemplos que não servem para caracterizar a música da época. Mesmo da Grécia Antiga, do terceiro e do segundo séculos que antecedem ao nascimento de Cristo, conhecemos muito pouco da cultura musical. Tão pouco que posso registrar aqui:
O fragmento de Eurípides, do século III AC, três linhas de um fragmento de tragédia, nos papiros de Zenón, do século II AC; cinco pequenos fragmentos de drama, nos papiros de Viena, também do século II; e, completos, apenas dois hinos a Apolo, cinzelados em uma parede da Casa do Tesouro Ateniense, em Delfos, e a “Canção de Seikilos”, registrada em uma coluna funerária, atualmente em posse do Museu de Copenhaguem.
Apesar desta precariedade de registros, é crível que o homem tenha cantado muito antes de fabricar seus primeiros instrumentos. É possível, até, que tenha sido através do canto que ele primeiro tenha manifestado a conquista de um dom que o diferenciaria para sempre de todos os outros animais: o raciocínio. Pois, mesmo que o homem primitivo não tenha cantado com a mesma sonoridade dos pássaros, ele já devia ser capaz de entoar melodias diferentes para cada momento e para cada sentimento. Muito provavelmente antes da invenção da roda, antes da conquista do fogo, o homem aprendeu a cantar. Mas tudo o que cantou durante séculos está perdido para sempre.
Nem mesmo a conquista da notação escrita salvou por completo a precariedade da música enquanto criação de um momento. Não sabemos bem como soava o cravo de Bach tocado pelo próprio, ainda que existam indicações nas partituras que permitam aproximações. Mas não sabemos, e jamais poderemos saber, como Mozart tocava as obras de Bach, ou Beethoven as obras de Mozart. Estes conhecimentos foram privilégios de quem os ouviu tocar a seu tempo.
Minhas senhoras, meus senhores: há duas décadas, aqui em Porto Alegre, nós temos o privilégio de ouvir os grupos corais regidos pelo Maestro Gil de Roca Sales. Um privilégio único, que passa pelo Madrigal Palestrina, pelo Coral da Pro Arte ou pelo Coral do Banrisul, para citar apenas três exemplos. Um privilégio que se materializa no momento fugaz de cada apresentação. Pois cada uma delas é única, particular. Mesmo que seja gravada em disco ou fita, ela não será igual a nenhuma das outras. Esta é uma característica única da música, a característica que tentei enfatizar anteriormente.
A noção do privilégio de viver no mesmo tempo e
lugar em que acontecem grandes manifestações musicais é fundamental para que
possamos usufruí-las. O trabalho do Maestro Gil, em termos de canto coral, é
uma destas grandes manifestações. A consciência de sua importância deve estar
no íntimo de cada um de nós. Sua presença constante dignifica nossa Cidade e
nosso Estado. E esta homenagem que hoje a Cidade lhe presta não é mais do que o
reconhecimento por tudo o que ele já fez, por todos os momentos que criou e
ainda há de criar, e que serão únicos, íntimos e privados dos que deles
participarem. Pois é nesta característica, tão vinculada, para nós, ao Maestro
Gil, que reside a maior força e beleza da grande arte da música. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra à Ver.ª Teresinha Irigaray, autora da
proposição, que falará em nome das Bancadas do PDT, PFL, PDS e PCB.
A SRA.
TERESINHA IRIGARAY: (Menciona os componentes da
Mesa.) Meu querido Homenageado, não o chamo pelo nome que é Alfredo Pozoco, mas
o chamo pelo nome que gratifica o meu coração e sensibiliza o meu retorno
dentro do tempo que é do meu querido Frei Gil, o Maestro Frei Gil de Roca
Sales.
Srs. Vereadores, senhores e senhoras aqui presentes, senhores da
imprensa e senhores funcionários da Casa.
Todos nós sabemos que viver é transmitir emoções, é vivenciar o
momento, é transmitir alegria, é saber o significado das tristezas, mas,
sobretudo, é saber diferenciar os momentos importantes e gratificantes da nossa
vida. E hoje, Frei Gil, hoje a Casa do Povo, que está numa hora típica,
desfalcada dos seus representantes devido a uma aproximação de uma campanha
eleitoral, mas que estão aqui presentes na nossa memória viva, porque todos
eles foram unânimes na aprovação do seu Projeto, hoje esta Casa, mesmo com
desfalque dos seus representantes, homenageia e dá titularidade a uma figura
querida, a uma figura humana, a uma figura muito respeitada na comunidade,
homenageamos Alfredo Pozoco, o nosso querido Maestro Gil, de Roca Sales. E o
motivo da homenagem, porque nós temos que destacar, em primeiro lugar, por
homenageamos determinadas pessoas, por que, dentre todas as pessoas da
comunidade, nós fazemos uma triagem e uma seleção, para darmos esse título de
Cidadão Emérito de Porto Alegre? O motivo desta homenagem, meu querido
Homenageado, é, em primeiro lugar, a sua competência, a cultura, a arte, que,
ao longo do tempo e de sua vida, sempre se fizeram presentes no cotidiano do
nosso Gil de Roca Sales. Mas, somando tudo isso, somando a competência, somando
a dedicação, somando o trabalho, somando a arte junto a todas essas qualidades,
soma-se uma que extrapola qualquer uma dessas citadas, soma-se a amizade, o
carinho, o reconhecimento e a admiração pessoal desta Vereadora ao Maestro Gil.
E, nesta tarde, já quase fim da Legislatura, já quase fim desta tarde
primaveril quente de Porto Alegre, no painel do tempo do meu painel, as imagens
se sucedem e se desenrolam. E eu recordo perfeitamente aquele frade capuchinho,
que era, e continua sendo, tão amigo da família Irigaray, família que se reunia
em muitas e muitas noites de festa, na Rua Gonçalo de Carvalho. E lá, junto com
ele, eu lembro também das figuras do então capuchinho Frei Marçal e recordo
também o nosso querido e saudoso Frei Antônio. Frei Antônio com a sua cabecinha
branca, sua barba de capuchinho, suas sandálias franciscanas e seu hábito, mas
com aquela sua alegria tão marcante, sua bondade e sua simplicidade que se
derramava por entre todos nós e se comunicava de maneira contagiante. Recordo,
também, a Igreja Santo Antônio, o Bairro Partenon, onde, por tantas vezes, Frei
Gil, confraternizamos em vários almoços com a Ordem dos Frades Menores
Capuchinhos. Mais tarde, praticamente o tempo nos afastou. Ficamos distanciados
um pouco, mas o reencontro, depois, foi com o músico e o regente de vários
corais. E o meu colega, o Ver. Coulon, já falou sobre a habilidade, a maestria,
a genialidade com que o Maestro Gil sabe reger e conduzir os seus corais.
Sempre brilhante, mas, sobretudo, sempre um homem simples, harmonioso no trato,
na distinção, na figura, transmitindo a sua música, que extrapola os limites e
as fronteiras brasileiras, insistente por toda a América Latina. O Maestro Gil
de Roca Sales é um nome de expressão, é um nome de vanguarda na cultura e na
arte do povo de Porto Alegre, do povo desta Cidade. E, nesta hora, Frei Gil, a
Casa do Povo de Porto Alegre lhe presta esta homenagem, porque quer reconhecer,
neste título, o seu trabalho, valorizando o que o senhor fez, valorizando,
inclusive, o pensamento unânime de toda a Câmara de Vereadores, ao lhe conceder
esta titularidade, pelo seu valor, pela sua obra e pelo seu trabalho, bem como
a sua dedicação e o seu amor aos problemas sociais e humanos de nossa
comunidade, às vezes a mais carente. Nesta hora, eu quero destacar que não falo
em nome de bancada nenhuma, apesar de o Presidente ter anunciado. Não falo nem
em nome da minha Bancada. Eu falo em meu nome pessoal, em nome da amiga
Teresinha, da Vereadora Teresinha, que, por felicidade, por desígnio superior,
conseguiu ser trazida para esta Casa e teve a justa recompensa neste final de
Legislatura, ao apagar da luzes, nas vésperas de uma eleição, de poder lhe
proporcionar este título, Frei Gil, e lhe digo, sinceramente, faço com muita
satisfação, muita amizade, e lhe passo às mãos, com muito carinho, este título,
porque o senhor merece, não só por tudo que eu disse, pelas pequenas, simples e
singelas palavras, mas pelo merecimento, de todos os seus amigos que aqui
estão, e a Casa está cheia, destes amigos que aqui vieram, nesta tarde, trazer
o seu abraço, o seu apreço, e dizer que, realmente, o Maestro Gil é um homem de
valor dentro da comunidade. E Porto Alegre, nesta hora, está muito orgulhosa em
ter o seu mais novo Cidadão Emérito da Cidade. Por todas as ruas, por todas as
praças pelas quais o Senhor passar, pelo Parque da Redenção, pelo Marinha do
Brasil, zona sul, zona norte, pelas escolas, quando o Senhor reger os seus
corais, quando o Senhor for brindar seus ouvintes com seu belo trabalho, a
Cidade é que vai se curvar agradecida, emocionada, orgulhosa perante o trabalho
do seu Cidadão Emérito, Frei Gil de Roca Sales. E eu continuo dizendo, Frei
Gil, porque é uma coisa do coração e de sentimento, ele me representa alguma
coisa do passado que eu trago para o Plenário, mas o Maestro Gil é aquele
competente que transforma e transborda de emoção, e que nos deixa emocionados e
satisfeitos em ouvi-lo. Nesta hora, Maestro Gil, a Câmara de Porto Alegre está
orgulhosa, a Câmara está engalanada, e, apesar das ausências, sei que os
Vereadores gostariam de estar aqui, mas nós estamos representando, Ver. Flávio
Coulon, do PMDB, Ver. Artur Zanella, do PFL, e esta representante do povo, para
dizer que o Senhor é merecedor, não só deste título, mas de todo o respeito, de
toda admiração e carinho da Cidade de Porto Alegre. Que Deus nos ilumine, Frei
Gil, que Deus abençoe, Maestro Gil de Roca Sales, pela beleza deste momento, um
momento extremamente simples, mas um momento de reencontro, de emoção, de
felicidade total. O Senhor vai sair daqui com seu título de Cidadão e vai
mostrar, por estas ruas todas, o que a Cidade lhe ofertou, mas vai dizer, a
Cidade me deu porque eu mereci e a Cidade também vai dizer, eu ofertei porque
ele é merecedor, o nosso Cidadão Emérito de Porto Alegre Maestro Gil de Roca
Sales. Meu abraço. Sou grata. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Solicito à Ver.ª Teresinha Irigaray que entregue o Diploma
de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Sr. Alfredo Pozoco, Maestro Gil de Roca
Sales.
(A Sra. Teresinha Irigaray faz a entrega do
Diploma ao Maestro Gil.) (Palmas.)
Com a palavra o nosso Homenageado.
O
MAESTRO GIL: Ver. Artur Zanella, 1º Vice-Presidente da Câmara
Municipal de Porto Alegre; Dr. Nestor Fedrizzi, Secretário Estadual de
Administração; Ver. Flávio Coulon; Ver.ª Teresinha Irigaray, que representaram
toda a Câmara nas suas palavras que me precederam; prezados amigos. Até aqui eu
tive que me concentrar para dizer os nomes certos, que nós, cientistas da
música, procuramos não errar, nem o acento do “i”, sobre os compositores,
especialmente os compositores da Renascença, da Idade Média, do Barroco, mas
estamos pouco afeitos a guardar de memória nomes de amigos e até de
compositores. Será um defeito, sem dúvida, mas vou começar dizendo que não me é
dada, aliás, não é meu forte, como de nenhum artista em geral, nenhum músico,
especialmente, o forte não é a palavra. O forte é o som. E, mesmo que o fosse,
hoje não seria o momento forte à minha palavra porque, se, ao reger o coral, já
me acostumei estar frente à multidão e controlar a emoção, hoje fiquei surpreso
e estou me sentindo emocionado de uma maneira única. Sinto que a emoção está me
tirando a tranqüilidade. Por isto não poderia falar bem, mesmo que este fosse o
meu forte. Mas algumas idéias não poderia deixar de expressar num momento tão
importante. Primeiro, que realmente me surpreendi demais com este título
honorífico de Cidadão Emérito dado a mim e até a uma classe, não apenas de
cultura, mas mais especificamente da música e, com maior especificidade dentro
da música, coral. Isto surpreendeu a mim e a todos corais e cantores aqui presentes,
por ser um acontecimento muito raro e que percebemos que veio de cabeças e
corações alheios a quaisquer outras motivações secundárias senão o fato de
terem sensibilidade muito grande, muito afinada para a cultura, para a arte e
para o canto. Eu, nesta altura, quero dar os parabéns, portanto, por mim, por
todos os corais e cantores aqui presentes, por terem tido esta sensibilidade,
porque para nós que lutamos dentro disso – realmente, toda a arte é uma luta,
toda a arte é uma longa paciência, como dizia um pensador – para nós é momento
de parabenizar a quem teve esta idéia, porque não me sinto realmente
homenageado; sinto, na homenagem dada a mim, muitos outros que aqui trabalham
dentro do canto-coral, da música e da cultura em geral, sinto todos eles
homenageados por esta digna Câmara. O segundo pensamento que não poderia deixar
de expor é que, méritos à parte, nós não somos juízes de nossas qualidades,
podemos ser mais da quantidade de nossas obras, assim como dentro de minhas
músicas, de minhas composições, de meus arranjos, de meus corais, poderei
contar a quantidade de tudo o que fiz; a qualidade é muito difícil. Então,
méritos e qualidades à parte, é para mim uma oportunidade de grande estímulo
num momento em que normalmente a gente pensa devagarinho e descansando o passo,
se dedicar, quiçá, a obras até mais meritórias, a gente tendo um título destes
é um estímulo para dizer: continue dentro disto que isto também é bom.
Realmente eu já muito discuti, desde os meus tempos de adolescente, qual seria
a maior arte. Para muitos era a poesia, para muitos o desenho, a pintura, para
mim sempre era a música; hoje já não posso discutir porque procurei me dedicar
à música, especialmente aquela música chamada música coral ou vocal, onde o
instrumento é a voz humana, o mais perfeito dos instrumentos, sem dúvida, mas o
mais difícil de ser trabalhado. Então, para mim, que sempre me dediquei a esta
arte, hoje já não posso discutir, seria suspeito se o fizesse, mas me alegra
muitíssimo ver outras cabeças, outros corações, dizerem que a música é uma arte
única, não tem comparação com as demais artes. Isto já é científico, é uma arte
espiritual, que trabalha com algo que não vê, por isso ela mais toca por
dentro. O grande forte, o grande dedo da música é o dedo interior, porque ela
pode realmente mexer com o interior das pessoas.
Então, quando nós vemos nesta Câmara tão bem
representada pelos dois Vereadores que falaram tão bem, homenagearam esta arte
sublime, podemos dizer mesmo esta arte divina dos sons, da música, nós vemos
mais um motivo de alegria e de estímulo e é tão importante que se diga que esta
arte é espiritual e até divina, que sabemos, pela história, que ainda hoje
existem religiões que não permitem a seus adeptos a cantarem alguma música, ou
tocarem música que não seja, que não fale de Deus, pois acham que a música é
tão divina, tão espiritual, que ela só deve ser usada para louvar a Deus. Claro
que hoje nós não pensamos assim, ainda mais hoje, em nosso tempo aberto para
todas as coisas boas. E hoje eu tive o maior exemplo, aqui talvez, de que a
música, além de louvar a Deus, ela pode fazer um bem que poucas vezes nos damos
conta, o de fazer o bem. Vemos a música como um sacerdócio, a música como um
apostolado, não apenas como uma profissão ou uma arte e a música sendo um
sacerdócio, eis que ela faz tanto bem às pessoas deve realmente ser seguida com
toda a seriedade, devemos segui-la com perseverança. Isto vale para mim, vale
para todos os cantores, pois só nós sabemos, dentro desta arte coral, quanto de
sacrifício, o quanto de paciência que devemos ter, não para começar um coral,
mas para continuá-lo. A perseverança é a coisa mais difícil dentro da música,
nós sabemos até na música profissional, onde os músicos profissionais vivem
disso, onde o dinheiro talvez seja um dos motivos que movem a música.
Raramente, existiu um grupo, me parece que o MPB 4, que durou dez anos. E, na
música coral, o Quarteto Em Si. Na música coral, tenho a grande alegria de ter
aqui presentes, ou representados, cinco grupos, que estão há mais de dez anos,
sem ter o motivo profissional ou o motivo do dinheiro, mas por amor à arte, por
amor à música, e por amor até às pessoas, pois através da música se leva muita
alegria, hoje tão necessária para o mundo e para o Brasil.
Então, os corais que estão aqui presentes, tenho
o prazer de citá-los, a partir dos mais novos: o Coral da Acentro, Coral dos
Servidores do Centro Administrativo do Estado; parece que, se não me falha a
memória, estamos cantando juntos há oito anos; Coral Aços Finos Piratini,
também, aqui representado, que já está trabalhando há doze anos; Coral do
Colégio Cruzeiro do Sul, já há perto de 20 anos, com uma pequena pausa
intermediária e que agora retomaram os trabalhos, as atividades; Coral
Banrisul, em março fazendo 22 anos; e o Madrigal de Porto Alegre, parece que
vai completar 28 anos.
Para mim, talvez para vocês também, tudo parece
ontem, porque me lembro muito bem como começou, me lembro dos cantores, existem
fundadores aqui, do Banrisul, fundadores também do Madrigal.
Então, isso é mais um sinal de que a música nos
faz passar o tempo com prazer, não sentimos o tempo passar.
Já agradeci, já dei os parabéns para quem teve
essa idéia, já não considerando a mim como homenageado, mas toda uma classe
representada por mim e pelos corais aqui presentes. Quero apenas reiterar o meu
agradecimento à Câmara de Vereadores, e agradecer as presenças ilustres e, mais
que ilustres amigas e importante para mim, num dia tão difícil, numa hora
difícil, e num tempo não tão fácil. Estou muito feliz de vê-los todos na minha
frente; espero que vocês tenham sentido a mesma emoção que eu tenho, de ter
tido uma grata surpresa e, ao mesmo tempo, um grande estímulo para poder dizer:
Avante! Continuemos! A música, além de ser arte, é também um sacerdócio,
através dos sons que espalha, espalha o bem. Muito obrigado. (Palmas.)
E, agora, um pensamento que eu diria no início
vou dizer agora. O poeta, e o poeta que representa todo o artista, digamos
assim, o artista pouco tem a dizer além de seus versos. O músico, nada melhor
representado por este poeta, o músico pouco tem a dizer além de seus sons: tudo
que ele tem que dizer ele diz através dos seus sons, ele diz melhor através dos
sons. E eu quero dizer a minha surpresa, o meu agradecimento, o meu entusiasmo,
o pouco de vida que me transmitiram, através disto, quero dizê-lo melhora,
agora, através da arte dos sons. Quero convidar os corais aqui presentes para
apresentar algum arranjo meu e alguma coisa do folclore gauchesco. Convido o
coral feminino para agradecer à Câmara de Vereadores e a todos amigos aqui
presentes, Madrigal de Porto Alegre. Como hoje é um dia de homenagem para mim,
então, vou apresentar uma pequena obra original minha. O poeta é um
pernambucano muito conhecido, chama-se Carlos Pena Filho, já consta na
enciclopédia o seu nome. Comoveu-me muito uma manhã de Natal, ao ler no antigo
Correio do Povo, uma poesia intitulada Poema de Natal e dizia assim: Sino claro
sino tocas para quem? Para o Deus Menino que de longe vem. Pois, se o encontrares
traze-o ó meu amor. E que lhe ofereces velho pecador? Minha fé cansada, meu
vinho e meu pão, meu silencia limpo e minha solidão.
Vou oferecer homenageando e agradecendo a todos
vocês.
(O Coral canta.)
Convido o Tenor Júlio Posenato para fazer parte
de mais uma apresentação do Coral Madrigal.
(Apresentação do Coral Madrigal.)
(Obra: “Ai Che quest’Occhi Mici” (Palestrina).
(Palmas.)
Tenho o prazer de convidar, agora, o Coral do
Banrisul.
(O Coral do Banrisul apresenta Regina Coeli (Gil). (Palmas.)
(O Coral do Banrisul apresenta “Ave Maria”
(Vitória).
O SR.
ARTUR ZANELLA: Ao encerrar, a única coisa que eu poderia dizer é que
esta Casa é uma Casa que enfrenta uma série de coisas, de greves, comoções,
mas, de vez em quando, temos a sensibilidade da Ver.ª Teresinha Irigaray e do
Maestro Gil de Roca Sales, que nos proporcionam este tipo de solenidade. Eu
comentava com o Dr. Nestor Fedrizzi, a quem agradeço a presença neste dia, e
ele me dizia que havia cantado em coro orfeônico, na PUC. E eu dizia a ele que também
havia participado de um coro orfeônico no Ginásio Santana, em Uruguaiana. E
informava ainda a ele que ele, como Secretário Municipal de Caxias do Sul que
foi, como Secretário Estadual de Administração, e eu, como Secretário Municipal
que fui, como Secretário Estadual que fui, como Vereador que sou, na verdade, o
que queríamos mesmo era trocar todos estes nossos cargos pelo prazer de, um
dia, sermos dirigidos pelo Maestro Gil de Roca Sales. Muito obrigado. Estão
levantados os trabalhos.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar,
declaro encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 18h36min.)
* * * * *